domingo, 11 de abril de 2010

Desabafo - deveria ser irrelevante, mas nunca é

"Quem sabe eu tive de algum modo pressa de viver logo tudo o que eu tivesse a viver para que me sobrasse tempo de... de viver sem fatos?"

As coisas mais cotidianas tem um peso tão grande, que as vezes a vontade mais iminente que surge dentro de mim, é poder viver sem tantas fatores externos passíveis de me causar sentimentos (de peso, de desespero . As alegrias nunca causariam um desespero assim) tão intensos .

Uma simples noite vira o caos, simples 4 horas podem causar uma súbita vontade de "mudar minha vida" , que sempre resulta em alguma complicação .
Eu sei que a vida não é fácil pra ninguém, eu juro que eu sei . Eu não me acho nenhum "atlas" .
Mas parece realmente que pelo menos o peso de algum mundo está nas minhas costas, pode estar na da muita gente, mas na minha também está .
E parece quase pesado demais pra se manter.

Como eu queria, nossa, COMO EU QUERIA, que as coisas fossem mais irrelevante mas raramente eu consigo fazer com que elas sejam, sem que eu sinta que eu estou matando um pouco de mim por dentro .
E talvez eu seja muito egocêntrica para conseguir fazer isso por outra pessoa, causando esse sentimento de mim sobre mim .

Queria conseguir juntar meu pensamento e minha vontade, queria conseguir me deixar sozinha.
Dói demais apreender a "dar sem receber" .
Dói mais ainda não saber se essa dor não passa de um sentimento real porém sem fundamentos reais .

"Mas tenho que tomar cuidado de não confundir defeitos com verdades.
Não, acho que estou precisando de olhar sem que a cor de meus olhos importe, preciso ficar isenta de mim para ver."





Precisava só desabafar um pouco coisas que as vezes me sufocam .
Talvez se elas sufocassem o tempo todo, elas fossem mais fáceis de serem solucionadas.
O difícil é a oscilação .


sábado, 10 de abril de 2010

TDA - informação


Introdução

O indivíduo que tem TDAH (DDA), é inteligente, criativo e intuitivo mas não consegue realizar todo seu potencial em função do transtorno que tem 3 características principais: desatenção, impulsividade e hiperatividade (ou energia nervosa).

Tem dificuldade em assistir uma palestra, ler um livro, sem que sua cabeça “voe” para bem longe perdida num turbilhão de pensamentos. Comete erros por falta de atenção a detalhes, faz várias coisas simultaneamente, ficando com vários projetos,e acaba sem finalizar nenhum, se culpando interiormente por todas as tarefas sem terminar e a cabeça remoendo todos os "tenho que". Quando estimulado, motivado e/ou desafiado, tem uma hiperconcentração. Obtendo resultados extraordinários que as pessoas sem o transtorno DDA necessitariam do triplo de empenho para conseguir.

É desorganizado tanto internamente (mil pensamentos e idéias ao mesmo tempo), como externamente: mesa, gavetas, papéis, prazos, horários...

A impulsividade domina seu comportamento. Pode falar, comer, comprar, trabalhar, ficar em salas de bate papo da Internet, beber, jogar... compulsivamente.


Os principais sintomas são: falta de atenção, impulsividade ou uma “energia nervosa”.
A impulsividade tem um aspecto positivo, podendo nos levar muitas vezes à ação.
O problema é quando ela se torna patológica como no caso do TDAH (DDA), onde há uma falta de planejamento em função da busca intensa e constante da gratificação imediata, correndo-se maiores riscos.

Provocar confusão, discutir, viver em conflito consigo e/ou com o(s) outro(s) é uma forma inconsciente de estimulação do córtex pré-frontal, que anseia por mais atividade. A pessoa não percebe esse processo, não o faz de propósito, mas pode ficar viciada em confusão.

Características que podem estar presentes em pessoas com hipofuncionamento do córtex pré-frontal, isto é, com TDAH (DDA):

Dificuldade de concentração

Distração

Dificuldade em ouvir

Falta de controle dos impulsos

Desorganização

Tendência ao adiamento de tarefas

Sonhar acordado

Falta de perseverança

Tendência a executar várias tarefas ao mesmo tempo, deixando muitas inacabadas

Falha na organização de tempo e espaço - dificuldade de planejamento

Problemas de memória a curto prazo

Dificuldade para lidar com regras sociais

Falhas de julgamento, interpretações errôneas

Dificuldade em expressar sentimentos

Ansiedade crônica

Tédio, apatia, falta de motivação

Hiperatividade

Dificuldade em aprender com a experiência

É necessário que a pessoa tenha 6 ou mais características do tipo desatento e 6 ou mais características do tipo hiperativo/impulsivo, de forma crônica e desde criança para haver possibilidade de diagnóstico de TDAH (DDA).



Importante para o diagnóstico é lembrar que o Distúrbio de Déficit de Atenção é uma condição que acompanha a pessoa desde sempre, é constitucional e inerente à biologia da pessoa, portanto, ninguém adquire Distúrbio de Déficit de Atenção.
A pessoa É portadora de Distúrbio de Déficit de Atenção, ela não ESTÁ com Distúrbio de Déficit de Atenção.
Os trabalhos recentes sobre Distúrbio de Déficit de Atenção mostram que se trata de um distúrbio neurobiológico. Alguns apontam para um eventual déficit de neurotransmissores, e outros dão ênfase ao déficit funcional do lobo frontal, mais precisamente do córtex pré-frontal.
Entre os neurotransmissores envolvidos no Distúrbio de Déficit de Atenção a dopamina(DA) e a noradrenalina(NA) teriam papel de destaque.
Não parece haver participação da serotonina no Distúrbio de Déficit de Atenção.
Os lobos frontais tem uma função executiva, importantes para a capacidade de iniciar, manter, inibir e desviar a atenção. Portanto, seria tarefa dos lobos frontais o gerenciamento das informações recebidas, a integração da experiência atual com a experiência passada, o monitoramento do comportamento presente, a inibição das respostas inadequadas, a organização e planejamento de metas futuras. Podemos compreender dessa forma muitas das manifestações de Distúrbio de Déficit de Atenção como resultado de uma deficiência funcional do lobo frontal.
Tudo que colocamos como "características" (atenção, impulsividade e hiperatividade) do deficit de atenção são os SINTOMAS da patologia .
A patologia é : as alterações nos neurotransmissores e o funcionamento alterado do lobo frontal.
Sendo assim, o tratamento ( medicamentos e psicoterapia) melhora os SINTOMAS, fazendo com que o funcionamento peculiar do cérebro do TDA, não traga tantos malefícios para sua vida diária.
Não existe como mudar o funcionamento neurobiológico de um cérebro, por isso é uma Doença Crônica.
Apenas trata-se os sintomas, assim como um diabético nunca deixará de ser diabético, pode apenas tomar remédios e adquirir hábitos específicos que ajudem para que a doença não lhe traga tantos malefícios no decorrer da vida. É exatamente do mesmo modo para quem tem uma patologia como essa na área mental .

O TDA não é um distúrbio passageiro, temporário, a ser superado, uma vez que é
neurobiológico e não o resultado de falta de disciplina ou de controle dos pais, assim como não é falta de força de vontade ou de caráter como muitos (infelizmente) pensam ser.
Mesmo se tratando de uma questão de "controlar os sintomas" é um processo, não adianta esperar que a existência do diagnóstico faça com que a criança/adolescente/adulto "supere" os sintomas do TDA 100% e muito menos em um tempo determinado.
Se trata de um doença crônica, aonde o indivíduo terá que fazer o tratamento pelo resto da vida, é parte da vida diária do paciente. A carga emocional e de stress, faz parte do dia a dia do paciente .
Ao contrário do que muitas pessoas insistem em querer achar (com julgamentos morais do tipo : " Você está querendo usar o TDA como justificativa"), NENHUM paciente gosta de ter TDA.
Acontece que quando diagnosticado e em tratamento, o paciente tem a capacidade de visualizar ( o tempo que cada um leva para conseguir ter esse discernimento é individual) aonde o TDA interfere e prejudica .
No entanto, visualizar e conseguir não deixar isso acontecer são coisas distintas. Somente com a medicação, a psicoterapia e o tempo esse indivíduo irá conseguir diminuir a influência da patologia no seu dia a dia.
Reforçando , é uma luta diária e incessante e pode ter certeza traz mais desgaste ao portador do que a quem convive com o portador .
Quem convive, sofre. Mas quem vive, sofre o tempo todo .
O paciente luta todos os dias não só com a influência negativa direta da patologia, mas também com a incompreensão e julgamento de quem convive com ele, e ainda lida com o aterrorizante fator (o paciente não tem como negar a influência dessa questão, o que traz tanta ansiedade e insegurança quanto a seus relacionamentos interpessoais) de que caso os "donos" desse julgamento crítico incorreto, não entendam REALMENTE o problema, vão lidar ( muitas vezes com a melhor das intenções) de forma extremamente prejudicial .
A forma de se ajudar um paciente TDA em suas dificuldades não é de acordo "achismos" ou pontos de vista. É uma doença, logo tem mecanismos específicos para conseguir resultados satisfatórios, que são demonstrados pelos profissionais aptos (psiquiatra e psicólogo), no decorrer do tratamento para o paciente e para quem convive com ele. Qualquer coisa baseada em suposições ou crenças pessoais acarretará em mais prejuízos a auto-estima e auto-imagem do paciente TDA que já é tão fragilizado por esses "julgamentos morais" e rótulos (indisciplinado,preguiçoso, malcriado e até mesmo pouco inteligente, coisas que quando se tem conhecimento sobre o TDA e o portador está em tratamento fica evidente que não condiz com a realidade da questão. Lembrem-se, alguns dos maiores gênios conhecidos por nós eram portadores de TDA.) que o acompanham desde criança; Algumas crianças com TDA já são difíceis de serem cuidadas antes mesmo dos 3 anos de idade por serem muito ativas, irritáveis, temperamentais, autoritárias, podendo ainda ter distúrbio de sono e/ou alimentar. Estas atitudes (infelizmente) tão comuns, no que deveria ser o "centro de apoio" (família nuclear, na infância e adolescência principalmente; quando na vida adulta dentro de um casamento, o cônjuge) desses pacientes causa uma falta de credibilidade do portador de TDA para com ele mesmo, o que resulta em muitos casos na ineficácia/atraso do processo do tratamento.
Isso quando consideramos o paciente como portador apenas do TDA, ou seja, sem nenhuma comorbidade ( ex: Transtornos do Humor).
Quando existe a comorbidade com alguma outra dessas patologias a situação fica ainda mais frágil e requer um acompanhamento ainda mais específico.




Texto com informações técnicas e minha visão pessoal do dia a dia.
Rebecca Krieger

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O medo de não ter medo

"Eu não tinha coragem de deixar de ser uma promessa, e eu me prometia, assim como um adulto que não tem coragem de ver que já é adulto e continua a se prometer a maturidade. Anteriormente, só de vez em quando, eu era lembrada, numa visão instantânea e logo afastada, de que a promessa não é somente para o futuro, é ontem e é permanentemente hoje: mas isso me era chocante. Eu preferia continuar pedindo, sem ter a coragem de já ter."


Minha bipolaridade sempre foi muito marcada pela mania .
Ai que jaz o problema .
Ninguém procura tratamento por conta própria na fase maniaca. Ela com todos suas conseqüências , é linda , é viva , é acontecimentos .
E tenho medo, confesso, de como vai ser quando ela estiver controlada assim como a depressão geralmente está .

"Não posso! não quero saber de que é feito aquilo que até agora eu chamaria de “o nada!” não quero sentir diretamente em mim o gosto do sal da vida, porque, minha mãe, eu me habituei ao encharcado das camadas e não à simples umidade da coisa.
Não, o problema não era o esse, para o sal eu sempre estivera pronta, o sal era a transcendência que eu usava para poder sentir um gosto, e poder fugir do que eu chamava de “nada”. Para o sal eu estava pronta, para o sal eu toda me havia construído. Mas o que minha boca não saberia entender - era o insosso, O que eu toda não conhecia - era o neutro.
E o neutro era a vida que eu antes chamava de o nada."

"E também o meu medo era agora diferente: não o medo de quem ainda vai entrar, mas o medo tão mais largo de quem já entrou.
Tão mais largo: era o medo de minha falta de medo."


Já cheguei a mudar as dosagens da minha medicação por conta propria, para me tirar da fase depressiva que cai, e voltar para a hipomania.
Mas as vezes, sou obrigada a me lembrar ( e é ai que eu vejo mesmo que depois a duvida volte, como é necessária e como deve ser bom tomar a medicação corretamente), a fase depressiva em que cai, e sai extremamente rapido, foi intoleravel o peso ,e ela ocorreu como conseqüência de tudo que aconteceu quando eu estava mais uma vez numa fase extremamente maniaca.
Na época, achei maravilhoso, tudo parecia fazer sentido. Mas assim como foi a depressiva, a outra tambem era parte da doença, e só não foi pesada na hora porque a impulsividade corria solta, e o peso só vem depois, mas ele sempre vem . E sempre vai vir.

"Só depois é que eu ia entender: o que parece falta de sentido - é o sentido.
Este é o núcleo do que eu quero e temo. Este é o núcleo que eu jamais quis."

Eu conheço minhas patologias, eu me conheço dentro das minhas patologias, o que Eu não conheço é o que é a vida fora da doença .
Eu conheço ” eu maniaca” e “eu deprimida” .
O intervalo disso, não sei ainda o que é .
E tenho medo , muito medo . De ser “neutro” demais para me permitir me sentir “viva” .
Um prazer delicado demais para a minha grossa humanidade que sempre fora feita de sentimentos grossos.
Mas apesar de todas essas duvidas, no profundo interior de mim eu sei, que não deve ser tão ruim quanto parece .
Eu tenho que lembrar, eu tenho sim uma patologia ( duas na verdade).
Mas eu não sou só a patologia .Eu tenho a minha personalidade .
E eu não vou perder minha “energia de vida ”.
E o que pesado demais é que vai passar a ter o peso real.
Só preciso agora depois de feita toda essa minha auto-análise de medos, é encontrar uma forma de colocar tais conclusões na praticidade da vida diária.
Fica aqui em baixo, uma "motivação", mais uma parte do texto da Paixão Segundo G.H (da Clarice Lispector) para relembrar nesses momentos de medo que existe vida no intervalo entre os extremos .
Obs: Não sei, caso alguém se interesse em ler tudo que eu escrevi, se veriam sentido em textos da Clarice como motivação para uma vida sem extremos de sentimentos . Mas eu vejo, não sei se alguém entenderia os textos dela da forma que eu entendo, mas sei que pra mim, a forma como eu enxergo as palavras dela, não me desestimulam a "tentar ser plena" pelo contrário.



"Eu ia avançando, e sentia a alegria do inferno.
E o inferno não é a tortura da dor! é a tortura de uma alegria.
Era como se antes eu estivesse estado com o paladar viciado por sal e açúcar, e com a alma viciada por alegrias e dores - e nunca tivesse sentido o gosto primeiro.
É muito difícil de sentir. Até então eu estivera tão engrossada pela sentimentação que, ao experimentar o gosto da identidade real, esta parecia tão sem gosto .
Eu estava agora limpa de minha própria intoxicação de sentimentos.
Eu estava inteiramente preparada para surpreender a mim mesma."