quinta-feira, 8 de abril de 2010

O medo de não ter medo

"Eu não tinha coragem de deixar de ser uma promessa, e eu me prometia, assim como um adulto que não tem coragem de ver que já é adulto e continua a se prometer a maturidade. Anteriormente, só de vez em quando, eu era lembrada, numa visão instantânea e logo afastada, de que a promessa não é somente para o futuro, é ontem e é permanentemente hoje: mas isso me era chocante. Eu preferia continuar pedindo, sem ter a coragem de já ter."


Minha bipolaridade sempre foi muito marcada pela mania .
Ai que jaz o problema .
Ninguém procura tratamento por conta própria na fase maniaca. Ela com todos suas conseqüências , é linda , é viva , é acontecimentos .
E tenho medo, confesso, de como vai ser quando ela estiver controlada assim como a depressão geralmente está .

"Não posso! não quero saber de que é feito aquilo que até agora eu chamaria de “o nada!” não quero sentir diretamente em mim o gosto do sal da vida, porque, minha mãe, eu me habituei ao encharcado das camadas e não à simples umidade da coisa.
Não, o problema não era o esse, para o sal eu sempre estivera pronta, o sal era a transcendência que eu usava para poder sentir um gosto, e poder fugir do que eu chamava de “nada”. Para o sal eu estava pronta, para o sal eu toda me havia construído. Mas o que minha boca não saberia entender - era o insosso, O que eu toda não conhecia - era o neutro.
E o neutro era a vida que eu antes chamava de o nada."

"E também o meu medo era agora diferente: não o medo de quem ainda vai entrar, mas o medo tão mais largo de quem já entrou.
Tão mais largo: era o medo de minha falta de medo."


Já cheguei a mudar as dosagens da minha medicação por conta propria, para me tirar da fase depressiva que cai, e voltar para a hipomania.
Mas as vezes, sou obrigada a me lembrar ( e é ai que eu vejo mesmo que depois a duvida volte, como é necessária e como deve ser bom tomar a medicação corretamente), a fase depressiva em que cai, e sai extremamente rapido, foi intoleravel o peso ,e ela ocorreu como conseqüência de tudo que aconteceu quando eu estava mais uma vez numa fase extremamente maniaca.
Na época, achei maravilhoso, tudo parecia fazer sentido. Mas assim como foi a depressiva, a outra tambem era parte da doença, e só não foi pesada na hora porque a impulsividade corria solta, e o peso só vem depois, mas ele sempre vem . E sempre vai vir.

"Só depois é que eu ia entender: o que parece falta de sentido - é o sentido.
Este é o núcleo do que eu quero e temo. Este é o núcleo que eu jamais quis."

Eu conheço minhas patologias, eu me conheço dentro das minhas patologias, o que Eu não conheço é o que é a vida fora da doença .
Eu conheço ” eu maniaca” e “eu deprimida” .
O intervalo disso, não sei ainda o que é .
E tenho medo , muito medo . De ser “neutro” demais para me permitir me sentir “viva” .
Um prazer delicado demais para a minha grossa humanidade que sempre fora feita de sentimentos grossos.
Mas apesar de todas essas duvidas, no profundo interior de mim eu sei, que não deve ser tão ruim quanto parece .
Eu tenho que lembrar, eu tenho sim uma patologia ( duas na verdade).
Mas eu não sou só a patologia .Eu tenho a minha personalidade .
E eu não vou perder minha “energia de vida ”.
E o que pesado demais é que vai passar a ter o peso real.
Só preciso agora depois de feita toda essa minha auto-análise de medos, é encontrar uma forma de colocar tais conclusões na praticidade da vida diária.
Fica aqui em baixo, uma "motivação", mais uma parte do texto da Paixão Segundo G.H (da Clarice Lispector) para relembrar nesses momentos de medo que existe vida no intervalo entre os extremos .
Obs: Não sei, caso alguém se interesse em ler tudo que eu escrevi, se veriam sentido em textos da Clarice como motivação para uma vida sem extremos de sentimentos . Mas eu vejo, não sei se alguém entenderia os textos dela da forma que eu entendo, mas sei que pra mim, a forma como eu enxergo as palavras dela, não me desestimulam a "tentar ser plena" pelo contrário.



"Eu ia avançando, e sentia a alegria do inferno.
E o inferno não é a tortura da dor! é a tortura de uma alegria.
Era como se antes eu estivesse estado com o paladar viciado por sal e açúcar, e com a alma viciada por alegrias e dores - e nunca tivesse sentido o gosto primeiro.
É muito difícil de sentir. Até então eu estivera tão engrossada pela sentimentação que, ao experimentar o gosto da identidade real, esta parecia tão sem gosto .
Eu estava agora limpa de minha própria intoxicação de sentimentos.
Eu estava inteiramente preparada para surpreender a mim mesma."

Um comentário:

ANALUZ disse...

Oi Rebecca

Ainda bem que gostastes do meu blog.Fico muito contente. O teu blog desde que o visitei chamou-me logo a atenção, gosto muito da maneira como expões o que te vai dentro. E compreendo-te muito bem. O meu Universo interior é muito semelhante ao teu. O meu e-mail para poderes falar comigo, trocar pensamentos, textos e idéias (filosofias próprias - todos as temos)é o seguinte: anyaluz@yahoo.com.br.
Fico á tua espera.

Haa, só mais uma coisa, não tenhas medo de não ter medo ... o medo em que vives é que te faz ter medo de não ter medo!!

beijo grande